Da OBMEP à ABC: a trajetória de Lucas Reis

 

Pentamedalhista e professor da UFMG, Lucas transformou paixão pela matemática em carreira


“Apesar de já ter feito várias outras coisas maravilhosas, incríveis, durante a minha carreira, eu ainda vejo a OBMEP como a mais importante”, afirma Lucas Reis, professor da UFMG e recém-eleito membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC). A frase resume uma trajetória marcada por conquistas: foram cinco medalhas na OBMEP, o título de primeiro medalhista da história de sua escola, a superação das dificuldades na rede pública e a conquista do diploma universitário — apenas o segundo da família a concluir o ensino superior.

“A OBMEP foi o início de tudo. Mudou minha vida e acho que eu teria tido um percurso muito diferente se não fosse por ela. Provavelmente não teria conseguido alcançar várias oportunidades que eu tive como consequência da olimpíada”, contou.

Mineiro de Belo Horizonte (MG) e filho de uma família de poucos recursos, Lucas enfrentou os desafios típicos dos estudantes da rede pública: escolas com estrutura limitada, sem acesso à internet e pouca tradição em competições acadêmicas. Mas foi justamente nesses contextos que deu os primeiros passos em direção ao que viria a se tornar uma carreira de destaque no ensino e na pesquisa matemática.

As primeiras medalhas não vieram de imediato — foram dois anos sendo classificado para a segunda fase, até conquistar o bronze em 2008. Depois disso, vieram outras quatro medalhas: mais um bronze, uma prata e dois ouros no Ensino Médio, totalizando cinco premiações.

Essa trajetória abriu espaço para experiências marcantes: Lucas participou da Cerimônia Nacional de Premiação, dos encontros no Hotel de Hilbert e do PIC Jr. (Programa de Iniciação Científica JR.), onde cursou disciplinas avançadas de matemática ainda no Ensino Médio. Com o apoio do supervisor, o professor Alberto Sarmiento, Lucas deu um passo ainda maior: começou a fazer disciplinas como aluno especial na graduação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).




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“O PIC foi um período muito proveitoso, principalmente por ter contato com o ambiente da universidade. A bolsa, por exemplo, me permitiu ter internet em casa pela primeira vez. Eu tinha um computador que ganhei como prêmio do governo do estado e, com a internet, o acesso ao conhecimento se ampliou. Na graduação, consegui me mudar e alugar um quarto perto da universidade.”

Do PIC, Lucas ingressou também no PICME (Programa de Iniciação Científica e Mestrado), que define como determinante para acelerar a formação. Da graduação, foi diretamente para o mestrado, também na UFMG. Em 2016, defendeu a tese e ingressou no doutorado. Com o bom desempenho, ganhou bolsa para um doutorado-sanduíche no Canadá em 2017, onde passou um ano. Em 2018, concluiu o doutorado e logo emendou um pós-doutorado em São Paulo.

“Na verdade, o PICME foi o grande responsável por impulsionar meu percurso acadêmico. Por esse adiantamento no último ano de ensino médio, cursando disciplinas da graduação, quando comecei a graduação tinha feito basicamente um ano de curso. E, no começo do segundo ano, já tinha ingressado no PICME nível mestrado. No final, concluí a graduação e o mestrado em três anos e já emendei no doutorado.”

A dedicação valeu a pena. Em 2019, Lucas realizou um sonho de vida com a aprovação no concurso para o departamento de Matemática da UFMG. “Via isso como uma coisa que levaria um tempo para conseguir. E acabou que as coisas funcionaram muito bem”, contou. E, em 2025, mais uma grata surpresa: Lucas foi eleito membro da ABC, coroando uma trajetória marcada por esforço, talento e oportunidades bem aproveitadas. Ao preparar a palestra de posse, voltou ao ponto de partida: a OBMEP.

“Preparando a minha palestra para a ABC, tive ainda mais certeza de como a OBMEP realmente fez toda a diferença na minha vida. Tem muita gente talentosa por aí, de várias áreas. Mas não basta ser bom, é preciso ser visto, ter oportunidade e é isso que a Olimpíada faz. Apesar de já ter feito várias outras coisas maravilhosas, incríveis, durante a minha carreira, eu ainda vejo a OBMEP como a mais importante.”