Paulo Santos Ramos, de Brasília (DF)

 

Por onde anda o brasiliense Paulo Santos Ramos, que, na primeira edição da OBMEP, em 2005, foi um dos medalhistas de ouro?

 

Paulo está com 26 anos e mora atualmente em Águas Claras, cidade-satélite de Brasília, com a mãe, dona Maria, e os irmãos Bianka, de 16, e Lukas, de 10.

 

A mãe, oriunda de Teresina (PI), está se preparando para trabalhar como corretora de imóveis, e o pai, nascido em Salvador (BA), é aposentado.

 

Por sua vez, Paulo tem estudado em casa sobre linguagem de programação C e C++.

 

- Estou elaborando um jogo de RPG textual, baseado na Bíblia, que já está bastante avançado, conta o rapaz, em entrevista por e-mail.

 

Em 2005, a medalha de ouro conquistada por ele na OBMEP chamou a atenção da mídia e do país por se tratar de um aluno cego e surdo que competiu com mais de 10 milhões de estudantes de todos os estados.

 

- Perdi a visão completamente na infância, sendo que o processo começou quando eu tinha uns dois anos. Minha audição também foi se deteriorando gradativamente. Fiquei sabendo da OBMEP por meio da professora Patrícia Marangon. No primeiro dia de aula, ela pegou um microfone com uma caixa de som e foi dando as aulas para mim. Achei bacana poder participar junto com o pessoal, me sentir ouvindo bem novamente. Hoje praticamente não escuto nada, mas tenho fé de que vou me curar. É uma certeza apoiada no que chamo de "presença de Deus em mim".

 

Paulo estava na 6ª série, na escola 405 Sul, quando participou da Olimpíada, estimulado pela professora Patrícia Marangon.

 

- A medalha de ouro foi uma de minhas vitórias. Foi uma chance de mostrar às pessoas o que eu realmente conseguia fazer. Para se comunicar com o mundo externo, o meu “mundo particular” teve de ser adaptado. Tenho um Display Braille (o IMPA me deu um novo, pois o antigo estava com problema) que viabilizou minha interação com o computador.

 

Paulo conta que sempre foi de tirar boas notas na escola, principalmente em Matemática.

 

- Sempre me destaquei e fui elogiado. Desde bem novo eu já gostava de Matemática. Com uns cinco anos de idade, sendo cego, sem saber ler, já mexia em vídeo só com o tato. Com uns 11 anos, perdi de vez a visão. Meu pai, autodidata, sempre me ensinava várias coisas, e eu ia aprendendo e observando tudo: história, ciência etc. Amo pensar, ser inteligente.
 

Uma sensação de acreditar na própria inteligência tomou conta do rapaz quando ele ficou sabendo do resultado da OBMEP 2015:

 

- Estava deitado na cama, dormindo, chateado com o fato de a surdez ter progredido. Sem PC, sem andar, sem ver... E, de repente, minha mãe se aproximou e me disse baixinho no ouvido que eu havia ganho a medalha de ouro. Acordei e fiquei pensando naquilo, satisfeito. Já viu alguma águia se gabando de seu voou? E de uma baleia de seu tamanho? Sabe por que não? Porque para tais animais isto é parte de si, é o seu potencial em ação. Agora, coloque uma águia para nadar e uma baleia para voar. Seria vergonha para eles? Não, só falta de adaptação. Cada um consegue seus voos e nados de acordo com as suas capacidades.

 

Quando indagado sobre sua rotina, Paulo responde que passa praticamente o dia todo no computador.

 

- É com ele que me comunico com o mundo externo. Gosto de exercitar a mente, programando meu jogo, por exemplo.  Também gosto de ler a Bíblia, além de alguns outros livros, e de conversar com amigos na internet.
 

Sobre o futuro, além de concluir o game no qual está trabalhando, ele diz que pretende fazer uma faculdade de ciência da computação e trabalhar na área.

 

- Tenho outro sonho: escrever ficção épica – revela.


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