‘OBMEP me fez perceber que eu tinha futuro’, diz medalhista

 

Vanessa Barreto, de Cocal dos Alves, cursa Matemática na UFPI


Aluna do curso de Licenciatura em Matemática na Universidade Federal do Piauí (UFPI), Vanessa Barreto de Brito, de 21 anos, conta que até os 15 anos não se identificava com o estudo da disciplina na escola. Até então, a matemática era considerada chata e desinteressante, mas a implicância foi deixada de lado quando a jovem se classificou pela primeira vez para a segunda fase da OBMEP quando cursava o nono ano do Ensino Fundamental. 

Na ocasião, Vanessa conquistou a primeira menção honrosa na olimpíada. A premiação foi um divisor de águas na vida da piauiense que viu no estudo a possibilidade de mudar a realidade da família. “Não tinha visão de futuro, não me via na faculdade, não pensava nisso, mas depois da olimpíada, vi que poderia ter futuro; vi que a partir do estudo poderia mudar a minha realidade, pois minha família é muito humilde. Sabia que a OBMEP seria uma porta para essa mudança.”

Nascida em Cocal dos Alves, cidade a 400 Km de Teresina (PI), a estudante conta que após conquistar a menção honrosa, foi contemplada com uma bolsa de R$ 100 do Programa de Iniciação Científica Jr. (PIC) e passou a integrar grupos de estudos de preparação para a OBMEP. Os encontros ocorriam aos sábados. “Com o dinheiro do PIC passei a comprar o que os meus pais não podiam me dar.”

Após a primeira conquista, Vanessa conta que passou a estipular metas para a sua vida escolar. A primeira delas era alcançar uma medalha na OBMEP com o intuito de garantir uma bolsa do PICME (Programa de Iniciação Científica e Mestrado) para custear sua permanência na universidade. Com a mãe dona de casa e o pai trabalhando como motorista, a jovem não teria condições de se manter em Teresina. A bolsa almejada era de R$ 400 - um terço dos ganhos da família. 

“Eu sabia que se ganhasse uma medalha, seria mais fácil conseguir uma bolsa de estudos na faculdade. Essa bolsa era importante para poder sobreviver em Teresina. Minha família sempre foi muito humilde, meus pais não teriam condições de me manter em outra cidade.”

 




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Com o apoio dos professores Raimundo Alves de Brito e Antonio Cardoso do Amaral, a jovem viu seus sonhos se tornarem realidade. Logo no primeiro ano do Ensino Médio, ela conquistou a primeira medalha de prata e nos dois anos seguintes, duas medalhas de ouro na OBMEP. Em 2020, ela foi aprovada para o curso de Licenciatura em Matemática na UFPI através do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). O melhor desempenho da estudante foi em matemática. 

Hoje, a universitária se mantém em Teresina não só com a bolsa concedida pelo PICME, mas também com a bolsa da TIM-OBMEP. Juntos, os auxílios somam R$ 1.600.  

“Tinha um objetivo muito claro que era ir para a faculdade e para isso acontecer precisava do PICME. Depois, acabei recebendo a bolsa TIM e fiquei muito feliz, pois são oferecidas apenas 50 bolsas para todo o Brasil”, contou a estudante que está no terceiro período da faculdade e é a primeira integrante da família a cursar o Ensino Superior. 

Capital da Matemática

Conhecida pelo excelente desempenho em diversas edições da OBMEP, Cocal dos Alves é uma cidade localizada no sertão do Piauí com cerca de seis mil habitantes. Em 2021, o município acumulou 6 medalhas de ouro; 16 de prata, 14 de bronze e 14 menções honrosas - um resultado de destaque para um município cujo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é um dos 40 mais baixos do país.

A única escola com Ensino Médio na cidade é a Augustinho Brandão, onde Vanessa estudou. A unidade foi reconhecida nacionalmente pelo desempenho excepcional nas Olimpíadas. Em 2018, a escola foi agraciada com o Prêmio Darcy Ribeiro de Educação, concedido pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. 

“Eu tenho certeza que só cheguei onde cheguei graças a dedicação dos meus professores”, concluiu Vanessa.