Jacundá, a cidade que abraçou a OBMEP

 

A OBMEP premia alunos, professores, escolas e secretarias de educação. Se também premiasse cidades por conta do desempenho dos seus alunos na Olimpíada e também em virtude do envolvimento dos estudantes, pais, professores, gestores das escolas, cidadãos em geral e representantes do poder público local, certamente Jacundá, cidade de 55 mil habitantes no sudeste paraense, seria premiada. Trata-se de uma cidade que, como diz a secretária municipal de educação, Geane de Deus Viana, “abraçou a OBMEP”.

 

Na OBMEP 2014, a cidade conquistou sua primeira medalha de ouro na Olimpíada, com o aluno Daniel Pinheiro Melo, primeiro lugar do estado do Pará no Nível 3. Também foram conquistadas duas medalhas de bronze – no nível 1 com o aluno surdo Erisvaldo dos Reis Alencar; e com o aluno João Paulo Pinheiro Melo, irmão do medalhista de ouro, que também concorreu no nível 3. Ainda foram conquistadas seis menções honrosas, com os alunos José Arthur Veloso de Araújo e Rayane Pinto de Moura, do nível 1; Thiago Henrique Marques Rocha, do nível 2; e Marcos Soares de Sousa, Matheus Augusto Alves de Sousa e Raylonn Lima Coelho, do nível 3.


Os quatro alunos premiados na OBMEP que estavam no 3º ano do Ensino Médio foram aprovados em universidades. Criados pela mãe, dona de casa que hoje trabalha na Prefeitura como apoio na limpeza das escolas, Daniel Pinheiro Melo, medalhista de ouro, e João Paulo Pinheiro Melo, medalha de bronze, passaram, respectivamente, para Engenharia Mecânica na Unifesspa (Campus Marabá) e Engenharia Elétrica na Universidade Federal de Tocantins (UFT), em Palmas. Uma bolsa de manutenção do Instituto Fundação TIM, em parceria com a OBMEP,  possibilitará que João Paulo faça sua graduação em outro estado. Já Daniel sonha em conseguir uma transferência para a Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém, para poder fazer o PICME paralelamente à graduação.

 

Marcos Soares de Souza passou para o curso de Engenharia de Alimentos na UFT e também para Engenharia Civil na PUC de Goiânia. Como conseguiu uma bolsa integral, optou pela PUC e está de mudança para a capital de Goiás. Já Raylonn Lima Coelho foi aprovado em cursos de Administração e de Sistema de Informação. No entanto, ele quer cursar Engenharia Civil e está aguardando o resultado de outros vestibulares.

 

Além da aprovação de alunos em importantes universidades, Jacundá teve outros motivos para comemorar em 2014. Um deles foi a conquista de uma medalha de bronze pelo aluno surdo Erisvaldo dos Reis Alencar, em sua primeira participação na OBMEP. Aluno do EJA (Educação de Jovens e Adultos), Erisvaldo ficou sem estudar por 10 anos. “Não estudava porque não tinha apoio, não tinha um intérprete. O que adiantava ir à aula se eu não entendia nada?”, indaga o rapaz. Hoje ele conta com um intérprete e está cursando no EJA o equivalente ao 8º e 9º anos do Ensino Fundamental. Erisvaldo é o terceiro aluno surdo de Jacundá a se destacar na OBMEP. 

 

Em 2014, Jacundá passou a ter, ainda, três alunos no Programa de Iniciação Científica Jr. da OBMEP (PIC), contra apenas um no ano anterior. Para comemorar os excelentes resultados, foi realizada, no final do ano, uma carreata com a presença de todos os alunos premiados na OBMEP, tratados como verdadeiros “ídolos” na cidade. Os carros percorreram o centro de Jacundá e as principais ruas de alguns bairros.

 

Mas como essa história de sucesso começou a ser escrita? Por trás dos ótimos resultados e da mobilização da cidade em torno da Olimpíada está o Projeto A matemática transformando vidas, criado por professores de matemática do município, sob a coordenação da professora Maria Aparecida de Souza Mendes, responsável pela área de matemática na Secretaria Municipal de Educação. O projeto está sendo desenvolvido nas escolas municipais de Jacundá, em turmas do 6º ao 9º ano, e nas escolas estaduais da cidade, voltadas para o Ensino Médio, também está sendo levado à frente por alguns professores.

 

Segundo Maria Aparecida – ou apenas Cida, como é conhecida e chamada por todos -, o projeto tem como objetivo “contribuir para transformações significativas no ensino e na aprendizagem de matemática, construindo conhecimentos e aprimorando a capacidade dos alunos de interpretação e resolução de problemas”. Essas transformações devem resultar – o que já vem acontecendo - na melhoria do desempenho dos alunos do município na OBMEP. 

 

“O projeto foi idealizado a partir das premiações na OBMEP 2011, quando trabalhamos com os alunos classificados para a 2ª fase as sobras de provas de anos anteriores ofertadas pela Coordenação Regional da Olimpíada na região (PA02). Os resultados foram inéditos - uma medalha de prata e quatro menções honrosas -, e isso motivou os professores a elaborar e a colocar em prática um projeto específico de aulas preparatórias para a OBMEP. Apresentamos a ideia para a secretária municipal de educação anterior, Ana Cristina de Araújo Negrão, que imediatamente o acolheu e nos incentivou a realizá-lo já a partir de 2012”, conta Cida.

 

Na OBMEP 2012, animados com os resultados obtidos no ano anterior, os professores passaram a montar grupos de estudos por meio do Projeto A matemática transformando vidas. Os grupos tinham no máximo 10 alunos por professor, e as aulas, com três horas de duração, eram dadas no contra turno. Os encontros tiveram início ainda na 1ª fase da Olimpíada, e os alunos participantes foram selecionados de acordo com os seguintes critérios: proficiência em matemática, afinidade com a matéria, compromisso e disponibilidade.

 

Divulgados no final de novembro, os resultados refletiram a dedicação de professores e alunos: 17 premiações, sendo uma medalha de bronze e 16 menções honrosas. “Tivemos dois professores premiados e três alunos do campo com menção honrosa”, ressalta Cida, com satisfação estampada no rosto.

 

De acordo com a coordenadora do Projeto A matemática transformando vidas, a 9ª OBMEP, no ano de 2013, foi especial não só pelas três medalhas de bronze e quatro menções honrosas conquistadas. “Deparamo-nos com a diversidade na prática. Além da participação de alunos surdos, tivemos a classificação de um aluno autista e de um casal de índios para a 2ª fase da Olimpíada”, diz. Neste ano, um aluno (o medalhista de ouro de 2014  Daniel Pinheiro Melo) foi um dos 200 selecionados em todo o país para participar, em Friburgo (RJ), do III Encontro do Hotel de Hilbert, evento da OBMEP destinado aos alunos com as melhores notas e participação nos fóruns do PIC. 

 

Cida conta que foi também a partir de 2013 que os professores de matemática da cidade passaram a se reunir, uma vez por mês, para estudar o Banco de Questões da OBMEP. “Eles mesmos solicitaram um encontro mensal de formação continuada para que, em grupo, discutissem as soluções dos problemas do Banco de Questões e das provas das edições da OBMEP”, acrescenta Cida.

 

Com os resultados obtidos em 2014, Jacundá passou a somar 38 premiações na OBMEP, sendo uma medalha de ouro, uma de prata, seis de bronze e 30 menções honrosas. “Claro que as premiações são importantes, mas o que mais nos alegra é perceber que o projeto está encontrando talentos e contribuindo para a ampliação do processo de inclusão social dos alunos (incluindo os alunos surdos) e de suas famílias”, diz Cida.

 

Para ela, é surpreendente a transformação que o projeto está fazendo na vida dos alunos, que passaram a acreditar nas perspectivas que podem ser abertas pelos estudos. “Os alunos de Jacundá reconhecem e valorizam a participação na Olimpíada. Hoje eles até se concentram mais e aproveitam melhor o tempo disponibilizado para responder as provas da 1ª e da 2ª fase. Em geral, são estudantes com uma história de vida muito difícil e sérias dificuldades familiares. São alunos talentosos, que precisam de uma oportunidade para agarrar e mudar de vida. Mesmo com todas as adversidades, o desenvolvimento pessoal e social é visível nos alunos que acreditam na OBMEP”, diz Cida.

 

Outro motivo de comemoração, na avaliação da coordenadora do Projeto A matemática transformando vidas, é o envolvimento dos pais dos alunos com a OBMEP. “Estamos tendo o apoio de toda a comunidade. Os pais levam contentes seus filhos para as aulas dos grupos de estudos e também para os locais da prova da 2ª fase. É um apoio muito importante, que sem dúvida vem fazendo a diferença para os bons resultados do projeto e nos processos seletivos de que os alunos participam. A crença na capacidade dos seus filhos e o incentivo dado a eles nos estudos contribuem em muito para as conquistas não só na OBMEP, mas na vida”, diz.

 

A secretária municipal de educação de Jacundá faz coro às palavras de Cida e garante que o município continuará dando todo o apoio necessário à continuidade e expansão do Projeto A matemática transformando vidas. “Os resultados conquistados por nossos alunos na OBMEP fazem jus ao nome do projeto, porque realmente estamos transformando vidas. A Olimpíada abre oportunidades de avanços nos estudos e nós, gestores da educação, temos que aproveitá-las e apoiá-las. Graças à OBMEP, aos nossos professores de matemática e ao Plano de Educação do Município, que coloca a Olimpíada dentre as suas prioridades, temos acompanhado a melhoria das condições de vida de muitos jovens talentos e de suas famílias”, completa.

 




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