Quando começou a lecionar na Escola Municipal Alberto José Sampaio (EMAJS), na Pavuna, bairro da cidade do Rio de Janeiro, o professor de matemática Deivison Cunha ouviu dos alunos, descrentes com seus próprios desempenhos escolares, que nunca seriam premiados na OBMEP. Surpreso com a baixa expectativa dos estudantes, Deivison decidiu provar que era possível fazer diferente. O atual coordenador regional do programa OBMEP na Escola, cuja meta é melhorar a qualidade do ensino da disciplina, se dedicou a criar uma olimpíada de matemática interna com os alunos do colégio, para demonstrar que ali havia potencial para conquistas em competições acadêmicas.
Aos 40 anos, Deivison dá aulas em duas escolas municipais e uma escola da rede particular de educação durante o dia. À noite, leciona na Universidade Estácio de Sá. Em meio a rotina cheia, ainda encontra tempo para coordenar o OBMEP na Escola de sua região, formado por um grupo de 13 professores da Baixada carioca, e motivar seus alunos a participarem de competições acadêmicas. “A grande maioria dos alunos acha que os conteúdos de olimpíada são difíceis, mas é uma questão de cultura. Se um aluno desde cedo começa a se deparar com problemas que incentivem o raciocínio lógico, o conteúdo se torna mais fácil. Se a gente continuar usando só o conteúdo sem contextualizar, trazer a interpretação e o raciocínio lógico, o aluno realmente vai achar difícil”, afirma.
Formado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e mestre pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), Deivison começou a participar do OBMEP na Escola em 2016. Foi a partir destes encontros que passou a reunir um material diferente do usual para trazer a prática de problemas diferentes às aulas. “O material elaborado para os professores é muito bom e os encontros criam uma troca de experiências. Foi muito interessante ver relatos de outros formatos e pensar em novas ideias que você pode implementar na sua escola”, opina.
Na Pavuna, diante da descrença dos alunos em relação a conquistas em competições acadêmicas, Deivison teve a ideia de criar uma olimpíada interna e, assim, premiar diversos alunos da unidade. O trabalho de organização da competição é voluntário e são os próprios professores que se esforçam para garantir a realização e a premiação dos estudantes. Motivados pela mudança de mentalidade nas turmas, eles elaboram questões e realizam a competição em duas fases, dividindo os níveis de acordo com o ano escolar – um nível para cada ano do Ensino Fundamental 2.
Desde a realização das olimpíadas internas, os alunos da Escola Alberto José Sampaio já conquistaram menções honrosas e medalha de bronze OBMEP, além de medalhas na olimpíada estadual, a OMERJ. Mas a maior das vitórias é a felicidade que eles sentem ao serem reconhecidos por seu desempenho. “Tivemos um caso muito interessante de uma mãe que foi na escola ver o seu filho receber o prêmio da nossa olimpíada e nos falou que era a primeira vez que ela era chamada na escola para ver alguém elogiar o filho dela, em vez de receber uma reclamação sobre o comportamento dele”, conta Deivison.
Localizada na Zona Norte carioca e na divisa com a Baixada Fluminense, a Pavuna ocupa a 99ª posição entre os 126 bairros da cidade no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). A violência, as enchentes e a falta de saneamento básico são só algumas das dificuldades enfrentadas pelos alunos, que começam a ter novas perspectivas a partir de um ensino transformador.
“Através da participação nas competições, vemos que tem vários alunos que se motivam a acabar o Ensino Médio e entrar em uma escola técnica, o que já serve de exemplo para outros. Sabemos que há muitos desafios, porque grande parte deles começa a trabalhar quando termina a escola, e não há nada de desonroso nisso. Mas sabemos que eles podem ir além. Estamos aos poucos vendo exemplos de alunos que percebem que é possível”, conclui com orgulho.