O Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência, comemorado nesta sexta-feira (11), tem como propósito dar visibilidade às mulheres que quebraram barreiras para conquistar espaço na ciência e incentivar meninas a seguirem a carreira. Dados da Unesco estimam que apenas 30% das cientistas do mundo sejam mulheres. No Brasil, o retrato é semelhante. As mulheres representam menos de um terço (26%) dos profissionais do mercado de STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, na sigla em inglês), segundo estudo coordenado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Maior olimpíada científica do país, a OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas) identifica meninas com talento excepcional para a disciplina. Ao longo dos anos, não foram poucos os casos de sucesso de medalhistas que se destacaram na competição. Algumas delas foram alçadas a participar de competições internacionais, protagonizando importantes conquistas acadêmicas. Bolsas de estudo, cursos na NASA e a participação na Olimpíada Europeia Feminina de Matemática (EGMO, na sigla em inglês) foram algumas das oportunidades que surgiram para estas estudantes após se destacarem na OBMEP.
Multimedalhista Gabriella Morgado foi a brasileira que mais pontuou na EGMO 2021
É comum que o interesse pela área comece a partir do estímulo na infância. É o caso da brasiliense Gabriella Morgado, de 16 anos, que no último ano foi a brasileira que mais pontuou na EGMO.
A inspiração de Gabriella vem de casa. O pai Carlos Alberto Morgado, administrador e professor universitário, atraiu a atenção da filha para as ciências com desenhos de figuras geométricas em 3D. “Isso me ajudou a ser apaixonada por matemática”, afirma. A mãe da jovem, Mirene Joaquina da Conceição, relembra esses momentos. “Quando Gabriella era muito pequena, o pai fazia esses desenhos e escrevia o nome dela com letras em 3D. Ela, mesmo ainda não alfabetizada, tentava copiar esses desenhos, e se saía muito bem”, afirma.
Gabriella participou da OBMEP pela primeira vez em 2018, mas foi na edição de 2019 que conquistou a medalha de ouro. O resultado foi impulsionado pelas aulas no Polo Olímpico de Treinamento Intensivo (POTI), em Brasília. “O estudo não foi ficando mais fácil, porque a matemática é sem limites, então sempre vai ter algo que te desafia. Não importa o quão bom ou ruim você seja, sempre tem algo para estudar que você ainda não dominou. E eu gosto disso! É o passatempo útil que eu mais gosto”, conta.
Além do excelente resultado na EGMO, a jovem foi medalhista de prata da Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM) Nível 2, em 2020, e recebeu menção honrosa na OBM Nível 3 em 2021. Mais recentemente, Gabriella acrescentou à coleção sua mais nova conquista, uma medalha de ouro na 16ª OBMEP.
Luiza Rubim, multimedalhista da OBMEP, vai fazer curso na NASA em outubro
Aos 16 anos, a estudante Luiza Rubim, de Vitória (ES), vem protagonizando uma longa e bem-sucedida trajetória em olimpíadas científicas. Além de ter sido premiada com dois ouros e um bronze na OBMEP, a capixaba também se lançou em olimpíadas de química, física, geografia, história e astronomia.
Por causa de seus excelentes resultados, Luiza foi selecionada para participar de um curso no Kennedy Space Center, da NASA, localizado na Flórida (EUA). A viagem está marcada para outubro deste ano, e será sua primeira experiência internacional.
No Kennedy Space Center, os alunos são convidados a conhecer o lugar, participar de palestras, entrar em contato com profissionais e participar de atividades práticas nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática. “Ainda estou em dúvida sobre qual área da engenharia seguir, então a viagem vai ser um ponto importante para levar em conta, porque vou conhecer mais de perto a engenharia aeroespacial e entender mais sobre a profissão”, afirma Luiza.
A estudante conquistou um ouro em sua estreia na OBMEP, em 2016, e foi convidada a frequentar o Programa de Iniciação Científica (PIC Jr.) semanalmente, onde pôde se aprimorar no estudo da matemática. As medalhas conquistadas na OBMEP de 2017 e 2018 garantiram sua participação no programa por três anos seguidos.
Luiza afirma que uma das suas maiores inspirações para perseguir o sonho de se tornar cientista é a física Marie Curie (1867-1934). Segundo ela, a identificação vem pelo fato de Marie ter precisado batalhar por espaço e persistir em meio às muitas dificuldades. “Nunca sofri tão diretamente com o preconceito, mas sempre me incomodou perceber que eram poucas meninas nas cerimônias de premiação. No meio de tanta gente, eu conseguia contar a quantidade de meninas. Mais recentemente, estou muito feliz por perceber que isso está mudando aos poucos e que esse número está crescendo. Acho que o fato de estarmos falando sobre isso ajuda. Estamos progredindo!”, comemora.
Ex-medalhista Katarine Klitzk desenvolve projetos de astronomia no Georgia Institute of Technology
Apaixonada por matemática e pelas estrelas, Katarine Emanuela Klitzke, de 20 anos, estuda engenharia da computação, astrofísica e inteligência artificial, na universidade Georgia Institute of Technology, nos Estados Unidos. O interesse pela área surgiu quando a jovem, natural de Timbó (SC), conheceu a OBMEP no 6º ano do Ensino Fundamental. “Foi através dela que comecei a enxergar novas oportunidades, ampliei os meus horizontes e me permiti sonhar”, conta.
Katarine explica que, inicialmente, encarava a OBMEP como mais uma prova, mas isso mudou quando recebeu uma menção honrosa na primeira participação. “Aquela premiação me estimulou a estudar mais para o próximo ano, quando consegui conquistar a minha primeira medalha olímpica: bronze na OBMEP!”, relembra. Dali em diante, a catarinense superou-se a cada edição da competição, conquistando um bronze, uma prata e um ouro, consecutivamente. Ela afirma que a OBMEP abriu muitas portas para o seu futuro.
“Até então eu morava em uma cidade do interior e o máximo que eu almejava era cursar uma universidade na cidade vizinha. Participando da OBMEP, me conectei com outras pessoas e vi que muitas delas foram aprovadas em universidades no exterior. A competição me deu a perspectiva de que, mesmo você sendo de uma cidade pequena, é possível alcançar grandes sonhos. Foquei muito em um processo de seleção para a universidade americana. Aqui, o principal para eles é verem o quanto você conseguiu se desenvolver e nesse quesito a OBMEP foi um dos principais diferenciais”, comenta Katarine.
A universitária, que também foi medalhista de ouro na Olimpíada Latino Americana de Astronomia e Astrofísica, tem a matemática e astronomia como suas maiores paixões. “A gente sabe que a área da ciencia, engenharia e matemática é mais dominada pelo sexo masculino. Já aconteceu muitas vezes de eu ser a única menina na sala de aula, mas nunca me intimidei. Acho que é importante a gente incentivar as pessoas a fazerem o que elas gostam e o que dá brilho nos olhos! Eu sou muito feliz porque posso dizer que tenho essa paixão e por isso consigo trazer resultados. Não é o gênero que vai definir se você vai ser uma pessoa de sucesso ou não”, opina.